11/01/2015

12 horas nocturnas


- Sim, eu sei, mas o que quero que me diga é se há alguma distinção entre a Rosário Toledo escritora e a pessoa. Podemos falar numa existência real e numa existência literária?
- Sim, claro. Quando estou a escrever um livro, vivo a meias entre a minha “existência real”, como disse, e a imaginária - o romance. Mas, às tantas, é inevitável acabar por fundir as duas.
- Isso quer dizer que não tem um quotidiano independente da sua actividade como escritora?
in Esta noite não aconteceu, de Sónia Alcaso (pág. 32)




Sei qual a resposta da personagem, não sei qual a resposta da autora, porém desconfio, provavelmente por sentir na pele as mesmas contingências, por ser a autora jornalista e escritora, os dias com dois trabalhos, o compromisso da escrita, a falta de tempo, a urgência dos afazeres, a pausa imaginária para café com as personagens, as conversas no metro, enquanto se estende a roupa, debaixo do chuveiro.
E Esta Noite Não Aconteceu, é um livro que nos enfia por 12 horas, se 8 horas de sono um dia inteiro, na vida de 4 personagens, uma escritora, um jornalista, um assassino, um polícia, dois pares perfeitos para dançar no salão.
O leitor dança?
12 horas nocturnas, sendo de incluir no adjectivo mentiras, encontros e desencontros, recordações, recriminações, abusos, máscaras, violência e sexo.
12 horas nocturnas até que a luz do dia nos mostra que nada é o que parece, ou ao contrário, pois no fim a sensação de desconforto por não saber o que foi real e o que foi ficção.

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